[DICAS] TRANSPORTE, ARMAZENAMENTO E MANIPULAÇÃO DE VACINAS

Baseado no original: Madsen LM, Phillips K. Vaccine transport, storage, and handling. Veterinary Technician. 2008; 29(3).

Introdução 

armazenamento-vacinasO transporte, armazenamento e manipulação das vacinas são questões importantes e frequentemente esquecidas que têm papel fundamental na eficácia do procedimento vacinal em seres humanos ou nos animais de companhia. Entre a expedição da vacina da indústria farmacêutica e a aplicação no animal, há diversas oportunidades para que ocorram problemas, como contaminações acidentais ou perda de propriedades imunogênicas das vacinas vivas-atenuadas, o que pode comprometer a imunização do animal. Deste modo, reconhecer os pontos críticos dessa cadeia (entre a produção e a utilização da vacina) é de grande importância, o que permite a obtenção do melhor resultado do procedimento vacinal.

Podemos dizer que o nível de consciência sobre as questões relacionadas ao transporte, armazenamento e manipulação das vacinas é maior na medicina humana do que na medicina veterinária, devido ao risco de contaminação e a necessidade de controle de epidemias graves, como a poliomielite, influenza e varíola. Analisando estudos sobre os protocolos de vacinação em seres humanos, nós veterinários podemos obter informações relevantes sobre a manipulação e armazenamento de vacinas.

As vacinas comumente utilizadas no meio veterinário incluem produtos contendo vírus vivos-modificados, vacinas inativadas (mortas) e as vacinas recombinantes. Os diferentes tipos de vacinas possuem diferentes níveis de suscetibilidade para as condições de armazenamento. O termo “cadeia de frio” é utilizado para enfatizar a importância de manter as vacinas sob temperatura adequada durante toda a cadeia de transporte, armazenamento e administração. A exposição da vacina a temperaturas fora da faixa recomendada pode ocasionar em prejuízos para suas propriedades imunogênicas, e consequentemente, uma menor proteção contra doenças. As vacinas contendo vírus vivos-modificados exigem muita atenção à cadeia de frio, pois tendem a ser mais sensíveis às oscilações de temperatura do que os demais tipos de vacina. De acordo com o relatório Feline Vaccine Advisory Panel da American Association of Feline Practitioners, as temperaturas muito baixas também podem afetar a qualidade das vacinas. Por exemplo, as vacinas com adjuvante são sensíveis às temperaturas de congelamento, pois o adjuvante pode separar-se do antígeno e formar um precipitado, muitas vezes invisível, mas que pode incitar o surgimento de inflamação local quando injetado.

Além das alterações de temperatura, a exposição à luz pode tornar as vacinas ineficazes. Por este motivo, não se recomenda o uso de geladeiras com porta de vidro transparente para o armazenamento de vacinas.

Armazenamento 

Praticamente todas as vacinas utilizadas em pequenos e grandes animais, incluindo as liofilizadas e líquidas, devem ser armazenadas em local escuro entre 2 e 7 °C. Alguns produtos (por exemplo, algumas vacinas para aves e peixes) devem ser mantidos congelados; e os veterinários que trabalham com esses produtos devem contatar o fabricante para obter instruções específicas sobre seu armazenamento. As vacinas que exigem refrigeração devem ser armazenadas em um refrigerador adequado. Este deve ser um refrigerador de tamanho padrão com um compartimento congelador separado – não um “frigobar” – para garantir o melhor controle da temperatura. A temperatura no interior do refrigerador pode oscilar; com temperaturas mais elevadas na porta e prateleiras inferiores, e temperaturas mais baixas próximo à saída do ar frio (parte superior). Por esse motivo, as vacinas devem ser mantidas no centro do aparelho, longe o suficiente do compartimento congelador e das partes mais inferiores (zonas de temperaturas mais extremas). A manutenção de jarros de água pode auxiliar a evitar flutuações de temperatura no interior do refrigerador.

Recomenda-se que vacinas sejam mantidas em suas embalagens originais, e as caixas armazenadas de modo que o lote mais recente (com maior validade) fique no fundo e seja utilizado por último. Alimentos e bebidas não devem ser armazenados no mesmo refrigerador que as vacinas. Tal medida visa prevenir a contaminação dos frascos com resíduos de alimentos (mesmo que invisíveis), e ainda, que as vacinas sejam submetidas a oscilações bruscas de temperatura.

Tão importante quanto manter as vacinas refrigeradas é verificar a temperatura de conservação ao longo do dia. A clínica deve designar uma pessoa principal e outra substituta para serem responsáveis pela cadeia de frio da vacina. Um termômetro digital com visor externo deve ser mantido no refrigerador e a temperatura verificada pelo menos duas vezes ao dia (ou seja, no início e término do expediente). A temperatura deve ser registrada em um livro específico, com o horário das aferições e as iniciais do indivíduo responsável pela verificação; se a temperatura do refrigerador estiver fora do intervalo recomendado (ou seja, menor que 2°C ou maior que 7°C), deve-se ser tomada alguma atitude.

Se a temperatura estiver acima ou abaixo do intervalo recomendado, uma investigação imediata torna-se necessária. Convém verificar a vedação (borracha) e se a porta está fechando corretamente. Caso seja necessário, o termostato deve ser ajustado e o técnico do aparelho deve ser chamado. A temperatura exata e a ação tomada devem ser documentadas no livro de registro.

No caso de uma queda de energia, o refrigerador não deve ser aberto até a energia ser restabelecida. Quando a energia for restaurada, a temperatura no interior do refrigerador deve ser imediatamente verificada e registrada, juntamente com a duração da falta de energia. As vacinas afetadas não devem ser descartadas, mas devem ser identificadas e mantidas separadas das demais, dentro do refrigerador. Os fabricantes das vacinas devem ser chamados para dar orientação sobre o que fazer. Dependendo da duração do evento e a temperatura final no refrigerador, as vacinas podem ainda ser utilizadas. Se a falta de energia prolongada for antecipadamente conhecida (por exemplo, manutenção da rede elétrica comunicada previamente), as vacinas podem ser removidas para um local que não será afetado, ou armazenadas em local refrigerado específico (como isopor com gelo reciclável).

Transporte 

O transporte das vacinas, muito frequente em casos de consulta em domicílio, é um ponto a ser considerado. Durante todo o transporte, deve-se assegurar a manutenção da cadeia de frio. As vacinas devem ser transportadas em caixas de isopor específicas (não compartilhadas com outros produtos), acrescidas de gelo reciclável para que a temperatura seja mantida entre 2°C e 7°C. Uma camada de material isolante deve ser colocada entre a caixa de vacina e o pacote de gelo (como um papelão) para evitar contato direto entre ambos, o que poderia resultar em temperaturas de congelamento no frasco de vacina. O ideal é que se utilize um termômetro na caixa de isopor (com visor externo) para que se tenha certeza da temperatura de transporte, principalmente quando se pretende utilizar essa forma de armazenamento por mais de 6 horas. A temperatura do isopor deve ser monitorada e registrada imediatamente antes e após o transporte. Recomenda-se que o isopor seja mantido junto à cabine, com o motorista, de modo a evitar as altas temperaturas do porta-malas ou da carroceria do veículo.

Manipulação 

Para as vacinas liofilizadas, recomenda-se utilizar somente o diluente fornecido pelo fabricante, bem como, seringa e agulha novas e estéreis para o preparo e administração do produto. As vacinas só devem ser reconstituídas no momento da aplicação, pois há o risco de perderem potência caso sejam mantidas por longos períodos desta forma, além do risco de contaminação e crescimento bacteriano no produto reconstituído e mantido sob temperatura ambiente. Ainda, há o risco de falha na identificação durante a aplicação porque muitas vacinas são semelhantes na seringa. A American Association of Feline Practitioners recomenda a utilização de vacinas no máximo até 30 minutos após sua reconstituição.

Algumas vacinas veterinárias estão disponíveis em frascos multidose. Ao utilizar um frasco multidose, o veterinário deverá assegurar que o conteúdo tenha sido bem misturado antes de retirar a dose e tomar as medidas necessárias para minimizar a contaminação do frasco.

Os procedimentos padronizados de segurança devem ser seguidos para evitar as aplicações acidentais. Isso é de particular preocupação com as vacinas de brucelose, pois o agente da vacina é vivo e tem potencial zoonótico.

Conclusão 



Apesar da maior consciência sobre a necessidade de cuidados para com a cadeia de frio das vacinas empregadas na medicina humana, ainda existem lacunas na implementação de alguns processos. Uma pesquisa de 2001 em clínicas pediátricas humanas constatou que 4% delas possuíam um refrigerador de vacinas com temperatura superior a 9°C, 15% armazenavam vacinas em temperatura de frigorífico (inferior a 1°C), 10% não tinham um termômetro no refrigerador e 62% não tinham registros completos de temperatura. Embora não existam estudos similares em medicina veterinária, os números podem ser semelhantes.

Os veterinários são um ponto crítico na manutenção da cadeia de frio das vacinas. Muitas clínicas não possuem procedimentos em vigor para monitorar a temperatura de armazenamento dos produtos biológicos; assim, os técnicos têm oportunidades para ajudar a projetar e implementar protocolos de armazenamento e manipulação das vacinas, de modo a garantir uma melhor imunização dos seus pacientes.


10 recomendações para o armazenamento, transporte e manipulação de vacinas 

1. Mantenha as vacinas em temperatura entre 2°C e 7°C. 

2. Evite expor as vacinas à luz. 

3. Armazene as vacinas em refrigerador adequado e exclusivo. 

4. Evite armazenar as vacinas na porta (temperatura mais alta) ou nas prateleiras superiores (temperatura mais fria) do refrigerador. 

5. Mantenha um termômetro com visor externo no refrigerador de vacinas para controle da temperatura 2 (duas) vezes ao dia. 

6. Não armazene alimentos no mesmo refrigerador (risco de contaminação e flutuações de temperatura). 

7. Evite abrir o refrigerador em caso de queda de energia. Marque a temperatura do refrigerador no momento que a luz for restabelecida e o tempo que as vacinas ficaram armazenadas nessa condição. Informe ao fabricante. 

8. Utilize um termômetro externo no isopor de transporte das vacinas. Não transporte o isopor com vacinas no porta-malas do veículo. 

9. Evite que as vacinas e o gelo reciclável tenham contato direto durante o transporte. Utilize um papelão para separá-los. 

10. Reconstituir a vacina somente no momento da aplicação.
Postagem Anterior Próxima Postagem