Transfusão Sanguínea de Pequenos e Grandes Animais


-Conceitos:
            -Transfusão: é uma prática médica que consiste na transferência de sangue ou de um componente sanguíneo de um animal (o doador) para outro animal (o receptor);
            -Autotransfusão: sangue do mesmo indivíduo é reintroduzido no corpo;
            -Transfusão homóloga: transfusão entre indivíduos da mesma espécie;
            -Transfusão heteróloga: transfusão entre indivíduos de espécies distintas;
            -Hemocomponentes: todos os componentes do sangue;
            -Hemoderivados: componentes do sangue após algum processamento (Ex.: plasma, PRP, papa de hemácias);
            -Aférese: filtração sanguínea para remoção de alguns elementos (Ex.: células tronco hemtopoiéticas);
            -Hemodiálise: filtração sanguínea para a remoção de produtos tóxicos;
Indicações para a Transfusão:
            -Casos de hemorragia, anemias não-regenerativas, alteração de coagulação, choque hemorrágico, anemia hemolítica não autoimune, trombocitopenia, enfermidades hepáticas, hipoproteínemia e VG (hematócrito) abaixo de 25%.
-Grupos Sanguíneos
            1-Caninos: 8 tipos sanguíneos. AEC (Antígeno Eritrocitário Canino)
AEC1.1, AEC1.2, AEC3, AEC4, AEC5, AEC6, AEC7 e AEC8
*Os tipos sanguíneos que têm maior potencial de causar reações transfusionais são o AEC1.1, AEC1.2 e AEC7.
            2­-Felinos: apenas 3 tipos sanguíneos
A (73%), B (26%) e AB (1%)
*Diferente dos cães, possuem anticorpos naturais, sendo estes responsáveis por reações transfusionais hemolíticas. Assim, a tipificação sanguínea e/ou a prova de reação cruzada são procedimentos indispensáveis para assegurar a compatibilidade nestes animais.
            3-Eqüinos: dotado de 7 sistemas (A, C, D, K, P, Q e U) cada um possuindo vários subgrupos, o que resulta em mais de 400.000 possibilidades de tipos sanguíneos diferentes.
*Apenas os antígenos Aa e Qa são potencialmente imunogênicos. Um doador deve, portanto, não ser apenas negativo para estes antígenos, como também não possuir anticorpos contra estes (não ter sido sensibilizado).
            4-Bovinos: 11 grupos sanguíneos.
A, B, C, F, J, L, M, S, R, T, Z
*B e J são os que apresentam maior importância clínica. O grupo B é extremamente complexo, tornando a compatibilidade entre transfusão muito difícil. O antígeno J é um lipídeo que é encontrado nos líquidos corporais e é adsorvido pelo eritrócito, ou seja, não é realmente um antígeno eritrocitário
*Porém os bovinos como outros ruminantes, não possuem ou têm poucas hemolisinas circulantes naturalmente e, portanto, uma primeira transfusão pode ser realizada com riscos menores de ocorrerem reações adversas fatais.
            5-Ovinos: 7 sistemas de grupos sangüíneos são reconhecidos.
A, B, C, D, M, R e X
*O sistema B nestes animais é análogo ao sistema B dos bovinos, e o sistema R é similar ao sistema J dos bovinos (os antígenos são solúveis e possivelmente adsorvidos ao eritrócito).
            6-Caprinos: 5 grupos sanguíneos
A, B, C, M e J
*são muito similares aos dos ovinos. Muitos reagentes utilizados para a tipagem de ovinos têm sido utilizados para a tipagem de caprinos.
            7-Suínos: 16 sistemas de grupos sangüíneos são reconhecidos
A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O e P
-Provas de Compatibilidade:
            1-Tipificação sanguínea;

            2-Prova de Jambreau (prova cruzada): necessita sangue do receptor e do doador.
*Deve ser obrigatoriamente realizada em pacientes a partir da segunda transfusão.
            -Há 2 tipos de reação cruzada, a maior e a menor. Na reação maior, cruzam-se hemácias do doador com plasma do receptor para verificar a presença de anticorpos no receptor contra as hemácias do doador. É a prova mais importante, devendo ser sempre compatível. Na prova menor, cruzam-se hemácias do receptor com o plasma do doador para verificar a existência de anticorpos no plasma do doador contra as hemácias do receptor.
-A transfusão de sangue para o qual a reação cruzada foi negativa, não previne sensibilização do receptor ou riscos de reações transfusionais neste.
-Apenas testa a presença de anticorpos contra hemácias, não detectando anticorpos contra leucócitos ou plaquetas.
-A incompatibilidade manifesta-se por hemólise ou aglutinação, sendo que, na ausência de incompatibilidade macroscópica, esta deve ser confirmada microscopicamente com relação à aglutinação.


 
            3-Prova do Volume-Teste:
                        -Administrar no máximo:
                                    -10ml: em felinos;
                                    -20ml: em caninos;
                                    -50ml: em eqüinos;
                                    -250ml: em bovinos;
                        -Monitorar entre 30 minutos e 1 hora, para verificar incompatibilidade.

-Doador Ideal:
            -Caninos: no mínimo 25kg de peso corporal
            -Felinos: no mínimo 4,5kg de peso corporal
            -Grandes animais: no mínimo 400-500kg de peso corporal
-Recomendações:
            -Volemia: 10% PV (para pequenos animais) e 8% PV (para grandes animais)
            -Volume Doado: 20% da volemia
            -Intervalo entre Doações: um mínimo de 30 dias
-Material Necessário:
            -Bolsas ou reservatório à vácuo, equipo de colheita, agulhas ou cateter, seringas, torneira de 3 vias, anticoagulante e tricótomo.
-Dosagem de Lactato;
            -Importante para verificar a oxigenação tecidual.
            -Alta concentração de lactato no sangue sugere baixa oxigenação tecidual.
-Volume de Sangue para Transfusão:
        Volume (em litros) = peso x fator* x (Ht pretendido – Ht receptor)
                                                                        Ht doador
*Fator:
            -Cães: 0,09
            -Gatos: 0,07
            -Grandes animais: 0,08
            -Potros recém-nascidos: 0,15
*Deve evitar fazer a transfusão e hidratação no mesmo acesso venoso, para evitar a formação de CaCO3.
-Reações Transfusionais:
            -Hemólise;
            -Sensibilização;
            -Reações imunomediadas;
            -Eritroblastose;
            -Sinais Clínicos: taquipnéia, taquicardia, taquisfigmia, dispnéia, ptialismo, êmese, prostação, urticária, paresia transitória, choque e morte.
            -Tratamento:
                        -Suspensão da transfusão;
                        -Fluidoterapia;
                        -Administração de corticosteróides (animais pequeno porte 4mg/kg de prednisolona)
                        -Administração de vasopressoers (animais de pequeno porte: difenidramina 1 a 2mg/kg e animais de grande porte: epinefrina 0,01 a 0,02ml/kg de solução 1:1000 IM,SC).
                        -Monitoração;
                        -Administração de heparina (75UI/kg SC – 6h/6h) em casos de hemólise intensa;

Referências Bibliográficas:

ANDRADE, Silvia Franco. Manual de Terapêutica Veterinária. 2 ed. São Paulo: Roca, 2002.

SPINOSA, Helenice de Souza, et al. Farmacologia Aplicada à Medicina Veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

Créditos: veterinariandocs

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